O que fazer com tantos brinquedos?
Depois da época natalícia, e especialmente com a entrada em novo ano, tendemos a fazer um balanço que recai invariavelmente sobre os excessos inerentes à quadra. E se é verdade que o exagero no consumo de doces deixa qualquer mente com mais peso na consciência do que propriamente na balança, não é menos verdade que qualquer pai reflete sobre a demasia de brinquedos que um generoso natal possa ter trazido.
Para alguns, o maior problema é o espaço, pois sejam eles mais ou menos didáticos aos olhos de um pai preocupado, nem a mais espaçosa moradia aguenta com tantos brinquedos. Para outros, uma questão de valores, pois receiam passar aos filhos uma ideia de abundância supérflua, que receiam ser um entrave ao empreendedorismo futuro.
Mas apesar de ambas as inquietações serem legítimas, a maior preocupação a ter em conta no que toca ao tema “brincar” é que a criança efetivamente brinque!
Com mais ou menos brinquedos, Brincar é essencial ao desenvolvimento porque contribui para o bem-estar cognitivo, físico, social e emocional das crianças.
Benefícios do Brincar:
Perante todos estes benefícios, a atividade do Brincar foi reconhecida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos como um direito de cada criança. No entanto, são variados os contextos em que as crianças são privadas daquele que é um direito essencial ao seu desenvolvimento: trabalho infantil, exploração, meios de violência e guerra, limitados recursos disponíveis para crianças que vivem em situação de pobreza extrema…
Porém, existem também crianças em contextos de abundância em relação aos recursos disponíveis e que vivem em meios de relativa paz, mas que, por estarem sujeitas a ambientes agitados, veem limitados os seus tempos de brincadeira e assim severamente diminuídos os benefícios que iriam receber das atividades lúdicas das quais são privadas.
É por isso imperativo que as crianças, mesmo em idade escolar, possam usufruir de tempo livre para, simplesmente, brincar!
Porque brincar é também uma componente essencial para a aprendizagem sócio-emocional. Através das interações durante o brincar são construídos relacionamentos duradouros, quer com os pais, que na brincadeira e sem esforço mostram às crianças que estão a prestar plena atenção à atividade dirigida pelos filhos, quer nas interações entre pares.
Assiste-se a uma diminuição drástica do tempo de brincadeira livre, pois as crianças são envolvidas numa série de atividades, cujo benefício para o seu desenvolvimento não é discutível, mas quando hipotecam o tempo de brincar, podem causar mais malefícios do que benefícios ao seu desenvolvimento.
É fundamental reconhecer o Brincar livre como parte saudável e essencial da infância, promovendo o brincar ativo e desencorajando o uso excessivo de entretenimento passivo.
A criação de ambientes educacionais capazes de promover o desenvolvimento académico, cognitivo, físico, social, e emocional deve passar por reforçar o tempo espontâneo compartilhado com as crianças, que pode ser mais produtivo do que qualquer atividade classificada como de enriquecimento curricular.
Apesar da crescente exigência dos tempos modernos, a programação académica deve também passar pelo equilíbrio apropriado entre as atividades escolares e as atividades lúdicas, pois nenhuma destas deve ser negligenciada, sob pena de criarmos crianças ansiosas ou deprimidas.
Por isso, privilegie a brincadeira espontânea e o faz-de-conta, porque Brincar é aprender a vida com alegria!
“Play is the beginning of knowledge.”
George Dorsey