Segundo a OMS, existem determinadas necessidades básicas para um desenvolvimento harmonioso do ser humano. Os cuidados de saúde e bem-estar devem estar centrados nas necessidades e preferências das pessoas, famílias e comunidades. Conforme o mencionado no Artigo 25.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “ Todas as pessoas têm direito a um nível de vida adequado à sua saúde e bem-estar próprios e da sua família, incluindo alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e serviços sociais necessários (…)”.
Em Portugal, mais de 50% das mães queixa-se de, pelo menos, um dos seus filhos comer mal, o que implica que aproximadamente 20% a 30% das crianças eventualmente apresentam uma qualquer dificuldade na alimentação. Desde o nascimento do bebé que satisfazer a necessidade básica de uma nutrição adequada é uma das principais preocupações dos pais, pelo que, uma perturbação a este nível pode constituir um fator de grande stress, tanto para a criança, como para a família.
A perturbação alimentar pode ser caracterizada pela ingestão de pouca quantidade de comida ou pela evitação em comer determinados alimentos. Como resultado, as crianças não conseguem ingerir calorias ou nutrientes suficientes na sua dieta, o que leva a défices nutricionais, atrasos no crescimento e problemas em ganhar peso. As manifestações de dificuldades alimentares podem surgir ainda em bebé (por volta dos 4/5 meses) ou manifestar-se durante a adolescência.
A perturbação alimentar na infância não deve ser confundida com birras, que são bastante comuns entre as crianças mais novas (como por exemplo, quando as crianças se recusam a comer vegetais). Este tipo de padrão alimentar mais seletivo geralmente resolve-se em poucos meses, sem causar problemas no desenvolvimento e no crescimento.
Conhecer as especificidades da perturbação alimentar é uma forma de entender e identificar qual o processo terapêutico mais indicado para a criança. Conhecer os défices nutricionais mais típicos e as diferentes abordagens nutricionais é essencial para delinear a melhor abordagem terapêutica.
As perturbações da alimentação têm agrupado profissionais de diversas áreas, quer na investigação quer na prática clínica, visando uma abordagem mais ampla e eficiente em crianças com dificuldades alimentares. As causas e as consequências das dificuldades do processo de alimentação na criança são tão complexas e heterogéneas, que, para a avaliação e intervenção, são necessários conhecimentos abrangentes de outras áreas da saúde, para além dos conhecimentos específicos e atuais em diferentes áreas, nomeadamente de Terapia da Fala e Terapia Ocupacional.
Se a Perturbação Alimentar na infância for tratada logo que os pais têm essa suspeita ou o bebé apresenta sintomas de uma alimentação inadequada persistentemente, a situação é facilmente resolvida com o mínimo impacto a longo prazo. Se não for tratada, os distúrbios alimentares podem levar a um atraso no desenvolvimento físico e mental que pode afetar o seu filho para toda a vida.
Assim, se a criança apresenta algum dos seguintes sintomas, procure ajuda de um profissional adequado que o poderá orientar e delinear a melhor abordagem terapêutica:
“Na maioria dos lugares, durante a maior parte da história, a alimentação infantil não existiu como uma categoria separada após a idade do desmame.”
Bee Wilson, First Bite: How We Learn to Eat